quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Pela construção do museu dos ex-combatentes em Feira

Em janeiro de 1942 o Brasil, em cumprimento de um tratado dos países da América, rompe relações diplomáticas com os países do eixo, Alemanha, Itália e Japão sem, entretanto, declarar guerra.
No dia 15 de fevereiro de 42, sem qualquer declaração de guerra por qualquer das partes, Brasil ou Alemanha, o submarino alemão de prefixo U-452 ataca, torpedeia e afunda o navio mercante “Buarque”. No dia 18 de fevereiro torpedearam o navio “Olinda”, aos 25 do mesmo mês foi a vez do “Cabedelo” e até o mês de agosto de 1942, a nossa Pátria foi agredida, massacrada e humilhada com a perda de 22 navios, em águas brasileiras, ceifando 914 vidas, inclusive de mulheres e crianças que viajavam nos navios.
O Brasil estava de luto e o seu povo chorava revoltado. Estava ameaçada a nossa soberania e os estudantes, em todos os rincões do País, acompanhados de intelectuais, comerciantes e o povo em geral, vieram para as ruas, em passeatas diárias pedir: GUERRA!...GUERRA!...GUERRA! Era a explosão da dor e da revolta que clamava por um justo revide à brutalidade dos agressores. E, a 22 de agosto de 42, o Presidente Getulio Vargas, pressionado pelo povo, declarou guerra a Alemanha, Itália e Japão.
Foi muito difícil para as Forças Armadas, principalmente a Marinha de Guerra e a Aeronáutica, combater o inimigo no vasto Oceano Atlântico com velhos navios e pequenos aviões de passageiros adaptados para o patrulhamento e comboio de navios mercantes. Mas conseguiram afundar alguns submarinos e afugentar outros que atacavam navios indefesos.Em fevereiro de 44, o “The New York Times” anuncia o afundamento de 18 submarinos em águas brasileiras por forças aeronavais brasileiras e americanas.
O Exército preparou 25.000 homens e no dia 16 de julho de 1944 a bandeira brasileira tremula no solo Italiano. Era o começo de uma epopéia que se estendeu por Massarosa, Monte Canunale, Camaiore, Monte Prano, Formacci, Lama di Sotto e dezenas de localidades então ocupadas pelo exército alemão, culminando com a espetacular batalha de Monte Castelo.
Em 8 de maio de 1945, os alemães rendem-se incondicionalmente.
Os soldados das três armas brasileiras, Exército, Marinha e Aeronáutica lavaram com seu sangue a honra da Pátria ultrajada. O povo voltou às ruas desta feita para aplaudir o feito dos militares brasileiros.
58 anos depois, os velhos combatentes de então lutam hoje pelo mínimo da memória daqueles que tombaram na defesa da Pátria: apenas um Museu da 2ª Guerra. Eles próprios construíram o prédio e mandaram fazer um projeto para instalação do Museu e encaminharam à Pirelle do Brasil ( em Feira de Santana) na esperança do seu patrocínio. A resposta está demorando e os Ex-combatentes vivos já passaram do 80 anos. Será que algum sobreviverá para ver o Museu ?
O Coronel Álvaro Márcio Moreira Santos, Comandante do 35º BI recentemente se utilizou de todo o seu prestígio para ver aprovado o projeto. Restou-lhe pedir às demais autoridades feirenses para intervirem pelos Ex-combatentes, como eles intervieram quando a Pátria precisou. Por favor, Senhores !!!

domingo, 12 de setembro de 2010

O Grande Estádio da Marechal Deodoro

A história do futebol em Feira de Santana ainda não foi contada, sequer pesquisada, ainda que 90% do povo daqui goste, e muito, desse esporte.
Embora não morra de amores por futebol, a ponto de fazer algum tipo de pesquisa, tenho preso às minhas lembranças os tempos da infância (quando eu jogava com bolas de pano) que os jogos eram realizados no campo principal da Cidade que se localizava onde está o prédio da antiga Usina de Algodão. Não me lembro os nomes dos times mas recordo que as maiores atrações eram os goleiros Cristo e Ioiô. Tuta, ainda vivo e forte, irmão de Cristo, era o melhor atacante. As torcidas eram pequenas, limitadas aos parentes e amigos dos jogadores. Era o mesmo futebol que ainda se vê nos lugarejos do interior na atualidade.
Mas nem sempre foi assim. O futebol em Feira teve os seus dias de glória, com todo o apoio da sociedade local, e um Estádio de primeira categoria, todo murado, com bilheteria e portões de entrada e saída, e uma grande arquibancada de madeira em bom acabamento. O seu nome era Estádio Leolindo Ramos e ocupava todo o último quarteirão da Rua Manoel Vitorino (hoje Marechal Deodoro). No norte limitava com o muro da residência de Tertuliano Almeida (hoje Solar Santana) formando ali o “Beco do Amor”. Ao sul com o “Beco do Asilo” (hoje Av. Mons. Mário Pessoa). Ao leste com a Av. Senhor dos Passos e a oeste com a Rua Mal. Deodoro. Como os jogos deviam ser realizados na parte da tarde, as arquibancadas foram construídas no lado oeste, portanto protegidas do sol.
Quando conheci o Estádio, em 34 ou 35, já estava abandonado, tomado pelo mato, porem as arquibancadas ainda estavam em bom estado, mesmo sem qualquer tipo de conservação. O porquê do abandono do Estádio eu nunca soube ao certo. Ouvi estórias de vários motivos, quase sempre envoltos de fantasia porem ligados à morte em campo de um jogador, vítima de uma pancada do seu irmão e adversário de time. Mas nunca pude fazer uma pesquisa. Certa feita conversei com o meu amigo Alberto Alves Boaventura a respeito e ele me disse que estava tentando coletar dados para uma crônica. Pouco tempo depois faleceu.
Espero que esta crônica sirva de provocação aos amantes da história do Esporte em Feira de Santana e os leve a uma pesquisa concreta sobre o Primeiro Estádio aqui construído e o porquê do seu declínio. Fica o desafio.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

OS “GALINHAS VERDES” - Integralistas em Feira de Santana

Já tive a oportunidade de dizer que escrevo crônicas sobre acontecimentos em Feira na década de 30, sem qualquer pretensão de fazer história. Não sou estudioso ou pesquisador dos assuntos. Apenas testemunha ocular do que conto e quase sempre estou esquecendo nomes, o que me obriga a recorrer às privilegiadas memórias de amigos como Niá Guimarães e Renato Motta.
Hoje estive recordando os idos de 32 a 37 quando Plínio Salgado e outros políticos criaram a “Ação Integralista Brasileira”, uma versão do Nazismo alemão e do Fascismo Italiano, com o apoio do Presidente Vargas que não era muito chegado aos Comunistas no outro extremo político.
Aqui em Feira o Dr. Joventino Pitombo , Sílio Soledade e outras pessoas de destaque assumiram a liderança e começaram a organizar o partido: inscrição dos adeptos com ficha completa, aquisição de farda (sapato e gravata pretos, calça branca e camisa verde com uma insígnia (um E ao contrário) no braço a exemplo dos Nazistas).
Durante os fins de semana havia treinamento de “Ordem Unida” onde aprendiam marchar, fazer manobras e principalmente a fazer a saudação – braço direito em horizontal para frente, mão espalmada voltada para baixo e a saudação (em voz alta): ANAUÊ PELO BRASIL!!!
Aos domingos promoviam festas que acabavam com desfiles e “anauês”. Nos feriados era grande a disputa por melhor colocação e destaque no cortejo. Deles havia os que usavam a farda durante todos os dias da semana pelo simples orgulho de ser Integralista. Mas os adversários políticos logo llhes deram o famoso apelido de “Galinhas Verdes”. Os mais ignorantes estavam sempre dispostos a responder com impropérios quando provocados pelo apelido.
Em 1937 Getúlio Vargas, que os tinha como aliados, passou-lhes uma “rasteira”. De posse de todos os fichários com os nomes e endereços de todos os Integralistas do Brasil, com uma ação de longo alcance e extrema rapidez, em uma só noite mandou fechar todas as sedes e prender, em suas residências, todos os Integralistas fichados.
Aqui em Feira muitos carros ocuparam a Cidade, silenciosamente, a partir das 22 horas e às 04 da manhã estavam todos presos.
À medida que efetuavam as prisões a Cidade ia acordando e às 4 horas as ruas estavam tão movimentadas como se fosse dia de festa, com uma tragicomédia pública: famílias em desespero, muita incerteza do destino dos presos, muitos boatos e o bêbado inveterado Arthur Bostoque, que fora rejeitado pelos Integralistas, gritando na frente da Cadeia: “Venham ver, as galinhas verdes agora estão no poleiro... viraram periquitos verdes e estão na gaiola...”
Ao meio dia meu pai deu-nos as explicações daquele movimento político que ia da “Intentona Comunista” aos partidos da Alemanha e Itália. A uma pergunta de um dos filhos ele respondeu: Integralismo, Fascismo, Nazismo, Comunismo, tudo que termina em ISMO, é a mesma porcaria. A minha irmã que se preparava para a Primeira Comunhão, inocentemente, perguntou: Catecismo também ?

domingo, 5 de setembro de 2010

Corisco, o diabo louro

Em 1938 a polícia matou os principais cangaceiros do bando de Lampião, inclusive ele e Maria Bonita. Posteriormente prenderam outros bandidos, alguns se entregaram e outros fugiram.
Estava com uma parte do bando em outra localidade o cangaceiro Corisco, um dos poucos bandidos realmente valente, conhecido e apelidado pelas volantes policiais de “Diabo Louro”. Tendo servido ao Exército, conhecia muito bem o manejo de armas, especialmente o fuzil, com o qual era excelente atirador. Logo que o cangaceiro soube da morte do seu chefe, Lampião, procurou investigar quais foram os traidores e dias depois voltou a Piranhas, Alagoas, onde matou aqueles que ele julgou traidor. Dali fugiu, escondendo-se nos lugares que conhecia e os sabia seguros.
Nos fins do ano de 39 Corisco decidiu abandonar o cangaço e traçou um plano para fugir, via Bom Jesus da Lapa. Assim com roupas simples e chapéu de romeiro, cabelo cortado e usando óculos, Corisco, com Dada e um casal de cangaceiro também vestidos à romeiro, partiram com destino ao Estado de Minas Gerais em seu objetivo. No dia 24 de maio chegavam em Barra do Mendes, Bahia, e, distantes seis quilômetros da Cidade, na Fazenda Pulgas, onde encostaram e pediram arranchamento, sendo atendidos pelo velho José Pacheco e sua mulher Virgilina Rosa de Souza, esta ainda viva com 94 anos. Naquele dia havia falecido D. Eliogéria, moradora da fazenda. Após uma noite de velório na fazenda, no dia seguinte todos os moradores da região vieram acompanhando o enterro até a Cidade de Barra do Mendes.
Depois do sepultamento todos se dirigiram para um boteco perto do cemitério e ali começaram a beber. Um rapaz da cidade, filho de família abastada e acostumado a tomar liberdade com as roceiras do lugar, vendo Dada, bonita e com o corpo bem feito, logo se aproximou, baixou a mão e deu um beliscão na bunda da mulher que ele nem conhecia. A mulher (Dada) lhe dirigiu um olhar de fúria, mas apenas afastou-se para colocar-se ao lado do marido, Corisco, sem nada dizer a ele. Afinal não podiam mostrar suas garras. Ao regressarem do cemitério, todos os cangaceiros se recolheram aos cômodos da casa de farinha, onde estavam arranchados. Nesse momento, chegou o tenente José Rufino com um pequeno caminhão cheio de soldados bem armados. Ali metralharam Corisco e Dada, enquanto o outro cangaceiro conseguiu fugir. Corisco e Dada, ainda vivos foram levados no veículo.
A notícia logo se espalhou e os companheiros do rapaz que dera um beliscão logo foram dizer a ele que a mulher que ele beliscara era Dada, mulher de Corisco. Sem procurar notícias da morte ou não de Corisco, o rapaz fez imediatamente suas malas e partiu para São Paulo, só voltando muitos anos depois.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Hino a Feira

Um dos maiores patrimônios culturais da nossa Feira de Santana é o seu Hino, safra da cultura ímpar de Georgina de Mello Lima Erismann. Cantado hoje em todas as cerimônias cívicas e na maioria das escolas publicas e particulares, o hino popularizou-se e engajou-se no sentimento de quantos amam esta terra que “ao estranho sempre domina”.
Não vamos falar da biografia de Georgina Erismann, pois todos a conhecemos via historiadores ou através de palestras proferidas pelo professor Carlos Melo,. um dos maiores biógrafos daquela feirense, e hoje como um dos diretores do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana, certamente irá carrear para aquela casa da imortalidade os frutos da sua vasta pesquisa.
Vamos falar um pouco dos versos do Hino à Feira. Segundo o mestre Teófilo Braga, ...”no desenvolvimento das línguas pela expressão oral, toda a significação implícita na palavra toma o seu relevo e espírito nos sons, entonações e acentos, estabelecendo, pelos vocábulos, a ritmopéia da língua, na cadência indeterminada do discurso oratório e especialmente na versificação, cuja beleza constitui a elocução poética” . Na letra do Hino à Feira, Georgina Erismann, através de uma metrificação perfeita, mostra o relevo de espírito dos sons, entonações e acentos, dando o ritmo que tanto nos encanta em sua poesia.
Nos versos do Hino à Feira, a poetisa usa uma das mais belas formas de metrificação, a endecha, onde os acentos silábicos caem, obrigatoriamente, nas terceira, sexta e nona sílabas poéticas, dando uma cadência monumental em cada verso. No primeiro verso, que é também usado como estribilho, Georgina criou um decassílabo da forma italiana com todo o rigor que a métrica exige e com rimas entrelaçadas, sem necessidade da rima rica que muitas vezes sacrifica a beleza do verso.
Também é de grande excelência a metáfora que ela insere nos terceiro e quarto versos da quarta estrofe “fiandeira que vive a fiar, a toalha de luz do sol posto”...
Embora as suas poesias sejam profundamente líricas, no Hino à Feira encontramos uma épica entretenida da Escola Francesa, principalmente porque perde o caráter narrativo para aparecer como expressão do sentimento.
O Hino à Feira é o maior tesouro, dentre os muitos que a Princesa tem, doado por sua ilustre filha Georgina de Mello Lima Erismann.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Costumes e Estórias da Vovó

Tive a felicidade de ser bisneto até 1948, quando, às vésperas do seu centenário de nascimento, morreu a minha bisavó Antônia Freitas da Silva. Memória privilegiada, gostava de contar aos bisnetos todas as grandes festas da sua época, o progresso da Vila, sua elevação à Cidade, as festas da padroeira e tudo mais que aconteceu no século XIX e o primeiro quartel do século XX. Até mesmo coisas que aconteceram, como o enforcamento de Lucas, ela nos transmitia o que sua mãe lhe contara, inclusive a vinda de músicos da vizinhança para tocarem na festa do enforcamento e o episódio do carrasco que pulou sobre as costas de Lucas para apressar sua morte, que estava demorando de acontecer.
Falava muito sobre o Padre Ovídio, seu trabalho em criar o orfanato “Asilo N. Sra.. de Lourdes”, fundação de filarmônicas, Montepio dos Artistas e muitas obras de caridade. Falava sobre Antônio Conselheiro e dos feirenses que foram para a famosa Guerra de Canudos.
Mas a lembrança maior daquela velhinha de cabelos prateados e largo sorriso é mesmo das estórias que contava na minha infância. Recordo-me, como se fora ontem, daquele provérbio que ela usava e abusava: “quem bem fizer, pra si é”; e quando perguntávamos o porquê daquela máxima, ela nos contava a estória de uma velha muito pobre e sem forças para trabalhar que morava no meio de uma mata e que, uma vez por semana, aos sábados, ia esmolar na Corte. E a cada pessoa que lhe desse uma esmola, o seu agradecimento era o mesmo: “quem bem fizer, pra si é”. Também para a Rainha dizia a mesma coisa, e esta, sem entender o conceito do agradecimento e já revoltada com aquela sentença, resolveu se ver livre da velha e naquele sábado preparou um pão com manteiga e veneno e aguardou o pedido de esmola, doando à velhinha o macabro presente. Como sempre, a pedinte recebeu a esmola e repetiu a máxima: “quem bem fizer, pra si é”. No domingo, o Príncipe, filho único da Rainha, saiu para uma caçada e perdeu-se no mato. Já era noite quando, acidentalmente, encontrou uma pequena cabana, a morada da esmoler, onde foi bem recebido e orientado sobre o caminho da Corte. Como estava muito faminto, perguntou à velha se não tinha alguma coisa para comer. A velha lembrou-se do pão vindo das mãos da Rainha e entregou-lhe dizendo: foi a sua mãe que me deu ontem. Assim o pão lhe pareceu melhor e logo foi comendo, morrendo instantaneamente. Com a chegada da Rainha junto ao corpo, logo reconheceu o pão que usara para matar a velha e sentiu bem profunda a máxima – quem bem fizer, pra si é; quem mal fizer...