sábado, 27 de abril de 2013

Trecho inicial do livro "MINHAS MEMORIAS"



                Nascido em dezembro (06) de 1925 (o meu irmão mais velho, Eurícles, apelidado de Liquinho, nasceu em 04 de setembro de 1924).  Nossos pais eram muito pobres. Casaram-se contra a vontade do meu avô José Moreira Duarte não queria o casamento e por isso fugiram: ela com apenas 14 anos. Foi aquela história:”amor numa casa de taipa, coberta de palhas”   Depois de os revoltosos terem fugido para a Bolívia em 1927; tenho a lembrança que, provavelmente, em 1928, estava no quintal da casa onde nasci, na rua dos olhos d’água, quando minha mãe fez-me entrar em casa e fechou as portas, alegando que os revoltosos estavam chegando. Talvez as notícias ainda recentes da Coluna Prestes, confundidas com a revolução de 1930 que se aproximava, tenham confundido as pessoas mais pobres e com pouquíssimas instruções então ali residentes.

     A segunda lembrança é da viagem que fiz de Feira para Santa Bárbara, via São José das Itapororocas, tendo dormido dentro do caminhão quando este quebrou e, ao raiar do dia o motorista, Ramiro, me pôs sobre os ombros e começamos a caminhar para o Distrito que não estava muito longe. Nos pastos o gado se movimentava. Ramiro assobiava e eu lhe pedia para parar o assobio, temendo que o boi viesse nos pegar.

      Fiquei morando em Santa Bárbara com meus avós. Eram donos de uma Pensão que ficava em uma esquina onde tinha uma feira de animais.  De amigos, lembro-me apenas de Zezito e Princesa, ambos filhos de Francisco Valadares, este primo do meu avô ou de minha avó. Não sei. Até o irmão mais velho que formou-se em direito, foi Deputado, Governador substituto e Prefeito de Feira, Carlos Valadares, que  nos considerava primos. Foi lá em Santa Bárbara que tirei a primeira fotografia com meus avós e que meu pai, posteriormente, mandou Nafitalino Vieira, amplia-la separando-me dos meus avós. Lá o meu tio Florisberto recebeu uma facada quando passava em uma travessa, à noite, por um indivíduo que o atacou por engano, confundindo-o com um seu desafeto, conforme ficou esclarecido, vez que o próprio criminoso percebendo o engano, socorreu-o e entregou-se à polícia. Mas a minha avó Naná, mãe dele, não quis continuar morando em Santa Bárbara e voltaram para a sua Feira de Santana.

      Em 1929 até 1931, morei na rua do ABC, hoje Av.Sampaio, que era chamada “ponta de rua”. À época o meu pai já trabalhava, como operário, na Fábrica Leão do Norte.  Depois...

 

sexta-feira, 5 de abril de 2013

NOVO TRECHO - COSTUMES





        Uma  lembrança que tenho hoje,  é dos costumes de quando comecei a entender alguma coisa; o primeiro ensinamento, antes de papai e mamãe, era “tomar a benção” aos mais velhos e beijar-lhes as mãos. Em 1997, no Povoado do Espínola, município de Barra do Mendes,em  um dia de sexta-feira da paixão, vi um rapaz de quase trinta anos (Valdo), ajoelhar-se na frente do padrinho (Salviano), de mãos postas, dizer: Louvado seja nosso senhor Jesus Cristo, benção meu padrinho; e o velho respondeu “Deus seja Louvado e lhe abençoe”. Era assim no século XIX em Feira. Mas em 1926 já fui educado pedindo a benção de todas as pessoas idosas, independentes de serem parentes ou não, apenas estendendo a mão direita.
          Os idosos tinham o costume de pegar na ponta do “pinto” da criança, com dois dedos, e levar ao nariz, dizendo me dá o pó; naquela época se usava muito tomar rapé (fumo de corda  torrado, moído e com perfume) e o nome era pó. O interessante é que o vaso de guardar o pó, se chamava binga. Também o pinto era  chamado, entre muitos nomes, o de binga. Daí a brincadeira dos velhos.
         A escolha dos padrinhos era feita antes de a criança nascer e eram escolhidos entre os melhores amigos, até porque os padrinhos eram tidos com segundos pais. O número de padrinhos era de cinco: 2 de batismo, uma de representação, outra de consagração e outro (a) para Crisma.
        Era quase uma obrigação dos Padrinhos dar um “trocado” para o afilhado quando, casual ou premeditadamente, este o encontrava e corria para pedir a bênção. Quando o padrinho era pobre, os afilhados se limitavam a pedir a benção somente se o encontrasse por acaso.
       Os pais e os padrinhos eram compadres e tinham um grande e mútuo respeito. Até os compadres sem batismo, feitos apenas “pulando” uma fogueira de São João ou São Pedro, tinham quase a mesma consideração.
       Entretanto, quando um rapaz ia “pular” uma fogueira com uma moça, quando muito amigos, nunca se concretizava porque os rapaz sempre dizia: “São João disse, e São Pedro assina – você é minha comadre... da cintura pra cima...” acabava em risos e brincadeiras juninas.