quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Acontecimentos de hoje, folclore de amanhã

Quando a gente convive por alguns anos com o pessoal da roça, vê e ouve muitas coisas que algum dia estará fazendo parte do folclore brasileiro.
Vivi quinze anos em uma fazenda, junto ao povoado do Spínola que contava com uns trezentos habitantes. Nesse período vi muita coisa interessante, e algumas vezes tive que intervir.
Lembro-me quando tivemos aquela epidemia de cólera que atingiu toda a Bahia, o Ministério da Saúde investiu muito em publicidade sobre o tratamento de água para beber pois era a principal via transmissão da doença. Então conversei com o pessoal e encontrei uma casa que tinha um rádio e já estava prevenida contra a doença e me afirmou a água que a gente bebe eu frevo e frito. Frevo eu entendi que ela fervia mais fritar água? ... Então perguntei como ela, D.Ni, fritava a água, e ela prontamente me respondeu apontando para um filtro de cerâmica novo: aqui é o frito.
O homem mais velho do povoado, Salviano, contava tudo sobre a história do Coronel Horácio de Matos, e contava com orgulho como o Coronel deu uma surra no seu pai, expulsou-o de casa e foi morar por algum tempo com a sua mãe. Sabia de tudo que se passou nos últimos 80 anos, inclusive conhecera a mãe do Coronel Antonio de Souza Benta e o local onde residiam, na Fazenda Laranjeira onde ainda existe o alicerce da casa, daquele que foi o mais valente coronel de Morro do Chapéu.
Residia, no povoado da Canabrava, 3 quilômetros distantes do Spínola, um fazendeiro tão mesquinho que no dia que matava uma preá, mandava a mulher botar no fogo para cozer um quarto da minúscula caça para o almoço.
Um dia chegou ele em minha casa para pedir-me o favor de descontar no salário de um trabalhador meu, o valor de uma semana de trabalho. Impedido por lei de tal procedimento, mandei chamar o trabalhador Miguel, acusado do calote, e este me relatou que realmente tomara o dinheiro de uma semana de trabalho, na época, para o seu casamento, realizado 40 anos atrás, e desde então o homem lhe cobrava porem ele não tinha condições de pagar e não iria pagar. O velho credor ainda procurou a polícia e o delegado informou que mesmo que ele provasse o débito este já estaria prescrito
Quem viaja para Ipirá, na entrada da rua tem uma boate com letreiros em destaque: BOATE DIA E NOITE. Não sei como funciona, mas lá está o convite.
Já que estamos falando de coisas para o folclore, vale lembrar o anuncio de uma barbearia em Ibititá, que até hoje deve estar na margem da estrada: BARBEARIA UNISSEX.

Nenhum comentário:

Postar um comentário