segunda-feira, 29 de março de 2010

Brandão ou Brandoa?

A história de Feira de Santana tem muitos pontos indefinidos que ainda causam polêmicas entre os historiadores: local exato da fazenda e da capela de Santana; origem dos seus proprietários Domingos Barbosa de Araújo e sua mulher Ana Brandoa, local dos minadouros que deram o nome de olhos d’água e outros pequenos detalhes.

Rollie E. Poppino em seu livro “ Feira de Santana” , o primeiro sobre a história da Cidade desde 1654 até 1950, não se preocupou com pequenos detalhes os quais também foram ignorados pelos historiadores Raimundo Antonio Carneiro Pinto, Oscar Damião de Almeida, Padre Galvão e outros.

Dentre esses pontos indefinidos está o nome da esposa do Tenente Domingos Barbosa de Araújo, Ana Brandoa, que alguns estudiosos acreditam que o nome Brandoa era uma corruptela do nome Brandão. Ela própria assinava Brandoa e por isso a maioria dos historiadores assim a grafavam. Outros acreditavam na corruptela e grafavam Ana Brandão. Houve quem afirmasse que Ana era analfabeta e por isso assinou Brandoa em vez de Brandão. Essa dúvida nunca saiu do canal das especulações, sem que algo de concreto fosse apurado.

Agora, depois de uma pesquisa na Google Earth encontrei as informações de que “ Brandoa é uma freguesia portuguesa do concelho de Amadora” ou seja um bairro de Lisboa. Segundo as pesquisas, “ as primeiras referencias que existem sobre este local datam de 1575. Nos arredores de Lisboa havia uma quinta de nome Brandoa. O nome da quinta teve origem nos seus proprietários – Dr. Jerônimo Vaz Brandão e mais tarde sua filha Maria Brandoa”. Ainda segundo a pesquisa na internet, Brandoa é uma palavra de origem céltica que advém do nome feminino, sendo portanto Brandão a forma mais antiga de transformar o ditongo nasal doa em dão. Portanto, o nome original é Brandoa, e Brandão tem a sua origem na palavra feminina.

Assim podemos afirmar que os fundadores da Cidade de Feira de Santana foram Domingos Barbosa de Araújo e Ana BRANDOA.

terça-feira, 23 de março de 2010

Os Primeiros Médicos de Feira

Não podemos afirmar com exatidão, mas parece-me que a Santa Casa de Misericórdia foi fundada em 1865 sem que houvesse um médico residente em Feira de Santana. O Dr. Joaquim Remédios Monteiro, ao que sabemos, chegou em Feira entre 1880 e 1890 e, embora tenha vindo busca da sua saúde dentro do bom clima da cidade, foi realmente o primeiro médico residente a clinicar em Feira, quando já existia a Santa Casa de Misericórdia.
Quanto ao segundo médico, ainda depende de uma pesquisa, pois está muito próximo o período entre Dr. Fernando São Paulo, Dr. Gastão Guimarães, Dr. Honorato Bonfim e o Dr. Joaquim D'Almeida Couto. Os quatro atuaram na década de 10, porém só temos certeza da residência do Dr. Gastão que, em 1914, já se firmara em Feira.
Os primeiros médicos aqui chegados, fizeram o trabalho de verdadeiros desbravadores do atavismo, oriundo do sincretismo que misturava curas, religiões, superstições, com rezas, chás, etc. Dr. Gastão fez um trabalho de catequese tão perfeito, que não foi muito díficil vacinar o povo contra varíola e posteriormente contra a peste bubônica. É bom lembrar que, então, não existiam escolas de 2º grau e a maioria das escolas primárias eram regidas por professoras leigas e, assim, não podiam ajudar muito naquele campo. Por oportuno, lembramos que a escova de dente chegou em Feira no fim da década de 30. O campo da higiene foi outro que coube aos primeiros médicos o trabalho da educação. E, para tanto, tinham que descer do seu linguajar clássico para o coloquial do tabaréu da região.
Agora me lembrei de uma estória, contada por meu avô, acontecida aqui em Feira quando Dr. Remédios Monteiro começou a clinicar. Segundo ele, existia um fazendeiro na região que, apesar de rico, era muito ignorante. Desejando educar a filha única (Mariinha), mandou-a para um colégio em Salvador donde, tempos depois, voltou professora. Ao regressar da capital, encontrou sua mãe doente. Perguntando ao pai pela doença da sua genitora, o velho respondeu sem titubear: - "Tá cum tumô na bunda." Ela, então, aconselhou levá-la imediatamente ao médico. Enquanto preparavam o carro de boi para levá-la deitada, a moça chamou o pai em particular e recomendou: - "Quando o senhor chegar no médico, não fale em tumor na bunda. Diga: tumor nas nádegas." - Com um pouco de dificuldade, o velho entendeu que a palavra "bunda" era, então, indecente.
Depois de algumas horas de viagem, chegaram ao consultório do médico, que mandou o casal entrar. A moça preferiu ficar do outro lado do cubículo, o qual era dividido por tábuas de meia altura.
Inicialmente, o Dr. Remédios perguntou ao velho o que havia com sua esposa, e ele disse que ela estava com tumor... como não conseguiu lembrar das nádegas, pôs a cabeça sobre o tablado e perguntou em voz alta: - "Mariinha!! como é mesmo o apelido que você botou na bunda de sua mãe?".

domingo, 21 de março de 2010

A Ponte Rio Branco

Foi em 33 ou 34 que fiz a minha primeira viagem a bordo de um automóvel. Meu pai alugou o carro de Anízio, único de aluguel na cidade, e fomos ver a grande enchente do rio de Jacuípe, sobre o qual se construíra, anos antes, a monumental Ponte Rio Branco.
Aquela ponte era a primeira e única construção na pequena malha rodoviária carroçável que ligava todo o oeste à capital, via Feira de Santana, e se a ponte fosse interditada por receio da força da enchente, como corriam os boatos, seria um desastre para o comércio de Feira. Não havia outra ponte sobre o Rio Jacuípe, como não existiam outras no Rio Paraguaçu (exceto aquela que ligava Cachoeira e São Félix), ou em outro rio da região. Portante, era de grande importância aquela ponte, construída em 1915/1917, exatamente para sanar o problema que as enchentes causavam deixando o sertão isolado, por meses, especialmente na época das trovoadas. Foi maravilhosos ver aquele caudaloso rio correr sob uma ponte tão bonita.
Aquela ponte foi o primeiro marco do nosso progresso. Embora os automóveis ainda estivesses engatinhando no Brasil, já se podia prever uma futura necessidade de rodovias, onde as obras de arte teriam que ser feitas nas travessias dos rios. Também por ali passavam todas as boiadas vindas de Goiás, Minas Gerais e do sertão de modo geral. As viagens a cavalo, as cargas de mercadorias vindas do campo e vice-versa, os tropeiros com dezenas de burros carregados e com um animal todo enfeitado na frente, chamado de madrinha da tropa, cruzavam diariamente por aquela ponte.
Os feirenses também usavam a ponte como área de lazer, fazendo grandes piqueniques aos domingos, a princípio caminhando e depois em pequenos caminhões e posteriormente em marinetes. Além de uma feijoada que se levava pronta, não faltava uma boa vitrola para a matinê dançante. A parte da manhã era reservada para o banho, que tinha os lugares definidos de homens e mulheres. Á tarde, após o descanso do almoço, dava-se ínicio à tarde dançante que ia até às dezessete horas, quando se regressava para a cidade...
Ha poucos dias, fui rever aquele recanto bonito da minha juventude. Melhor não tivesse ido. A imponente e majestosa ponte Rio Branco se transformara num monte de ferro retorcido sobre o leito do reio que por tantos anos ela reinou. Não sei ouvia mais a vitrola nem a algazarra das crianças. Até o gado deixou de andar tocado por vaqueiros, a pé, para viajar em carrretas. O lugar está ermo, feio e triste. Até o leito do rio que fora caudaloso, hoje são pequenos filetes de água, qual lágrimas de saudades dum passado belo e grandioso.

quinta-feira, 18 de março de 2010

O Cemitério Piedade

No limiar do século XX, o Cemitério Piedade, sob a administração da Santa Casa de Misericórdia, era o único da cidade. Apesar de pequeno, era suficiente para abrigar o pouco número de féretros de então, e ainda se dar ao luxo de discriminar os indigentes e pagãos.
A largura da fachada era a mesma que a atual, mas a medida da frente ao fundo era de um terço, aproximadamente, do que é hoje. A parte de campas perpétuas terminava ao lado da capela, onde havia um ossuário em forma de iglu onde eram jogados os ossos de indigentes e daqueles que pagavam somente o aluguel de dois anos.
O ossuário era chamado de "vira mundo". Não sei se aquele nome foi atribuído pelo formato do globo terrestre ou se tinha referência aos pobres que estavam discriminados. Quem não era nem rico nem pobre, o que chamamos de classe média, tinham ainda a opção das carneiras (gavetas nas laterais internas). Mais abaixo da capela, vinha a parte onde eram alugadas as sepulturas por dois anos e, dividido no fundo por uma cerca, a parte exclusiva para indigência e leprosos. Ainda dentro daquele cercado, havia uma pequena parte separada para enterrar mortos que não fossem católicos, então considerados pagãos.
Não existiam velórios públicos e cada morto era velado em sua própria casa. Também não existiam carros funerários e o féretro, no esquife, era carregado por amigos e parentes de casa ao cemitério, com passagem pela igreja. Os sinos badalavam com toque especial de finados desde o momento em que o "enterro" saía de casa até a chegada à igreja. Para quem era rico, celebrava-se a missa de corpo presente na própria Igreja. Para quem não podia arcar com as despesas, a demora era pouca.
Na época em que houve a peste bubônica, nenhuma vítima da doença tinha o direito de entrar na igreja, e o sepultamento era feito na parte dos leprosos.
No local para os não católicos, enterravam-se sempre os ciganos, e vítimas de suicídio, se pobres, vez que então não se falava em prática de outra religião na cidade.
Havia em Feira um mendigo, bêbado inveterado que, certa vez, sentiu-se mal, desmaiou e foi levado para a Santa Casa de Misericórdia. Lá, um médico constatou que o paciente estava morto. Na verdade, ele tinha sofrido um ataque de catalepsia e o médico não conseguiu identificar. Era costume da época, a Santa Casa emprestar um caixão para levar os cadáveres de indigentes até a sepultura onde o corpo era depositado e o caixão devolvido. Assim, fizeram para levar o bêbado até o cemitério piedade, mas quando chegaram no caminho o defunto mexeu-se com violência e os carregadores o soltaram no caminho de forma que o caixão se espatifou pelo chão, saindo então, atônito, o mendigo.
Vendo-se sozinho, saído do caixão, aquele resmungou - "teja onde tiver, é um bom lugar porque aqui tem bodega." Assim partiu para a bodega próxima. Como o dono refugiou-se com medo do morto, ele serviu-se, à vontade, da cachaça existente. Conheci-o nos idos de 32, velho, com o apelido de "Já Morreu".

terça-feira, 9 de março de 2010

Do mutismo à Rádio Difusão

Não sei exatamente quando chegaram os primeiros receptores de rádio em Feira de Santana, mas me recordo do sacrífico que o meu pai fez para comprar um da marca "piloto", com o formato de um "U" de cabeça para baixo. Isto aconteceu no ano de 1938, exatamente quando Getúlio Vargas criou "A Hora do Brasil", espaço que tinha por fim divulgar os acontecimentos nacionais e controlar as notícias, oportunidade que os amigos e vizinhos se reuniam em nossa casa para ouvir e comentar as novidades.
O ano de 1939 trouxe o ínicio do que seria a Segunda Grande Guerra. Então já não eram só os vizinhos e amigos que se interessavam pelo noticiário: o aparelho ficou mais próximo da janela e os interessados em ouvir se aglomeravam ao pé dela, na parte de fora, ouvindo também a BBC de Londres que tinha um programa em português.
A guerra intensificou a comunicação. A década de 40 popularizou o rádio, e os reclames (propagandas) inundaram os seus espaços. Lembro-me de um senhor idoso comentando que estava decepcionado com o aparelho que comprara, pois "o danado do rádio passa o dia inteiro cantando: miorá, miorá, é mió e não faz má".
Logo vieram os serviços de auto-falantes. Os primeiros chegaram com os parques de diversão que se instalavam na Praça Padre Ovídio por ocasião dos festejos da Padroeira. E depois como veículo social de mensagens e dedicatórias musicais de aniversários, de namorados e muito romantismo. Evoluiu para organização comercial explorando todas as áreas do ramo, com fins lucrativos. Dudinha, Gerson Matos e outros foram os primeiros locutores que ainda lembro.
Foi em 1948 que o antigo cabeleireiro Pedro Mattos, então proprietário de uma gráfica, conseguiu a inacreditável façanha de fundar e instalar a primeira Estação de Rádio de Feira de santana, com o nome de Rádio Sociedade de Feira de Santana, com o prefixo ZYR 3 e com 250 Watts de potência.
Somente quem conheceu as dificuldades da época, pode avaliar o mérito de Pedro Mattos em conseguir para Feira de Santana a primeira rádio transmissora. Foi um heróico trabalho feito por um gigante pioneiro. Em dez anos a cidade saía das trevas estreitas do mutismo para uma rádio emissora de notícias para toda a região. E observem que aquele pioneiro não era rico nem erudito; era inteligente e criativo, e acima de tudo, amava Feira de Santana.
Infelizmente os homens de valor, criadores, pioneiros desta terra são desprezados pelos invejosos, fracos de espírito. Talvez por isto Pedro Matos é um esquecido nesta Feira de Santana, onde ele foi o pioneiro no uso das ondas Hertzianas.

domingo, 7 de março de 2010

Uma homenagem especial ás mulheres Feirenses

Antigamente a mulher era, tradicionalmente, "de prendas domésticas": costurar, bordar, cozinhar, tocar piano, administrar o lar e cuidar dos filhos era o seu mister.
Em 1930 a "Escola Normal de Feira de Santana" diplomou sua primeira turma de professoras, com nove feirenses e duas de cidades vizinhas. Este ato consolidou o marco da educação em Feira e abriu caminho para a liberdade profissional da mulher na região.
Daquelas primeiras mestras lembro-me das Professoras Margarida e Lourdes Brito, Edith Machado Boaventura, Célida Soares, Bertulina Suzart, Georgina de Mello Erismann, Regina Vital, Sidrônia Junqueira, Esmeralda Brito, Alda Marques, Edelvira Oliveira, Maria Diva Portela, Emengarda Oliveira, Úrsula Lima Leite, além de outras que ensinavam nas escolas João Florêncio e Maria Quitéria.
Durante os sessenta anos seguintes a Escola Normal produziu centenas de professoras. Uma grande parte delas dedicou-se à Educação, direta ou indiretamente. Seus alunos, seus filhos, seus netos não ficaram analfabetos. Uma boa parte seguiu para as faculdades, outros ingressaram no comércio e na indústria, muitos dos quais construíram o progresso da cidade através da política, das letras, das artes, etc.
Mas elas não se acomodaram com o anel de professora: Rute Fernandes, Zaida, Izabel e outras fundaram os Grupos Dramáticos "Sales Barbosa", "Taborda" e vários Grêmios Literários. Alcina Fadigas criou o Clube Pastorial e Georgina Erismann criou o primeiro coral da Feira, onde ensinava música e poesia para quem quisesse aprender. Itan Guimarães e Olga Noêmia iniciaram a década de 40 c0m um grupamento de Bandeirantes.
Mais tarde, sob a orientação do Padre Mário Pessoa, foi recriado o grupo denominado "Senhoras da Caridad" formado pelas senhoras que então representavam a sociedade feirense, lideradas pela Professora Regina, além de Germina Carvalho Silva, Zildete Ferreira de Cerqueira, Arminda Guimãres Alencar, Glorinha Bahia, Amanda Azevedo, Amanda Portugal e muitas outras, cujo grupo convergiu para o atual Dispensário Santana.
Continuar falando sobre as mulheres da Feira antiga e moderna, é cometer injustiças, uma após a outra, pois cada nome que deixamos de citar, que são milhares, é uma injustiça cometida. As mulheres desta terra, ouso dizer, representam não só o espírito de luta do seu povo, como também o seu dinamismo. Parabéns ás mulheres de ontem e hoje. Salve o dia 8 de março!!!!!!

sexta-feira, 5 de março de 2010

A Primeira Indústria de Feira

Não sei exatamente a data da fundação da Fábrica Leão do Norte, mas lembro-me dela em 1930 situada entre os fundos da Prefeitura e o ABC (hoje Avenida Sampaio). Era a única construção em meio a um grande matagal. Ocupava uma área de uns 20.000 m², incluindo a chácara com a residência do seu fundador e proprietário, Paulo Costa Lima, o químico que criou a famosa Jurubeba Leão do Norte.
A fábrica tinha uma grande área construída dividada em escritório, salão das dornas onde ficavam umas 15 delas de 2 a 4 mil litros, salão de engarrafamento, rotulagem e acabamento, sala de carpintaria e embalagem, galpão de moagem com as primeiras máquinas a motor, sala de produção onde se faziam as bebidas, sala de tanoaria, sala de lavagem de garrafas, além de vários depósitos para carroças, dependências para operários e um sem número deles.
Durante todos os dias da semana havia muito movimento de carroças transportando caixas e barris de bebida para a Estação Ferroviária e para o comércio local. Nos dias de segunda-feira, dia da feira local, a fábrica ficava tomada de animais de carga que vinham de toda parte comprar bebidas e vinagre.
É díficil de se acreditar que uma cidade até então tão pequena tivesse uma fábrica daquele porte, mas era tão grande e boa que Feira ficou pequena para ela e o Sr. Paulo Costa Lima levou-a para a capital onde mais se desenvolveu e ainda hoje tem nome no brasil e no exterior - A Jurubeba Leão do Norte, nascida em Feira de Santana.
A minha permanência na Marinha durante a Segunda Grande Guerra e posterior residência em fazenda no sertão, me afastou da família do Sr. Paulo Costa Lima, mas como bom feirense não esqueço de D. Senhora nem dos seus filhos, especialmente Vivaldo, que era dos mais novos senão o mais novo. E já que falei em bom feirense, que tal se os Srs. Vereadores, nascidos ou residentes aqui, que também são feirenses, trocassem um desses nomes de rua como Los Angeles, Buenos Aires, Ayrton Senna, etc. pelo nome do respeitável Paulo Costa Lima numa justa homenagem ao primeiro industrial de Feira de Santana, ao homem íntegro, ao pai que deu filhos ilustres a Feira de Santana, como foram todos os seus filhos.
Vamos ser menos ingratos com os antepassados que conduziram Feira ao alto do progresso. Esquecer ou negar o nome de homens que fizeram a história da cidade não é só ignorância e ingratidão: é uma covardia.

As Fofocas da Época

Antes da Segunda Guerra Mundial, Feira de Santana era uma pequena cidade de uns 20 mil habitantes, onde todos se conheciam e todos se observavam dando margens aos comentários que ás vezes evoluiam até as fofocas, como toda cidade do interior.
Existira aqui em Feira um casal (hoje normal) que na década de trinta era visto com grande discriminação, pois todos sabiam que a esposa era infiel ou adúltera e o mais vergonhoso e inacreditável é que o marido sabia. Mas o amante era um lojista de boa situação financeira e muito generoso. Como a sua loja era de tecidos de toda espécie, ele presenteava a mante com muitos "cortes" de tecidos de primeira qualidade, o que deixava o marido enciumado. Mas o seu ciúme era porque ele não ganhava nada. Tanto que reclamou que a mulher lhe garantiu que na primeira oportunidade ia pedir um "corte" de casimira para que ele fizesse uma boa roupa para a Festa de Sant'Anna.
Havia uma empregada do casal que tudo contava ás asua colegas, que contavam a outras e assim o povo da cidade acompanhava o triângulo amoroso. A empregada não só ouvia como vez por outra dava uma olhadinha pelo buraco da fechadura.
Uma tarde o bom amante bateu á porta e o marido estava no quarto. Ouvindo a voz do sócio, outro recurso não teve a não ser esconder-se em baixo da cama e ficar quieto. Aliás essa não foi a primeira vez que fora surpreendido e já sabia como agir.
A mulher confiava na providência do marido e calmamente trouxe o amante para o quarto do casal onde costumavam trocar juras e carinhos. E foi no meio desses carinhos que a mulher lembrou do pedido do marido e falou: - Meu querido, eu queria, que você me trouxesse um corte de casimira para eu dar a meu marido nos festejos de Sant' Anna. - Claro, minha querida! e qual é a cor que ele gosta? A mulher calou-se tentando lembrar se ele havia dito a cor. Também o amante ficou em silêncio, esperando. Mas o marido ficou impaciente e sussurou (que até a empregada ouviu): - Azul...