segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

De poeta e Louco...

Não é privilégio das classes dominantes fazer a história. Aliás não é privilégio de quem quer que seja. A história simplesmente acontece e envolve todos e tudo que estejam no seu caminho. Cada momento do nosso passado guardado na lembrança é um pedaço da história íntima de cada um.
Assim como guardo no baú de recordações os nomes dos grandes administradores do Município, Industriais, Comerciantes, Poetas, Músicos, Professores, Jornalistas, fazendeiros e outros contemporâneos, também guardo os apelidos pelos quais atormentávamos as inocentes vítimas das nossas cruéis brincadeiras, como “Ratuim de Igreja”, “Barba Dura”, “Bom no Bife”, “Raposa”, “Fulô de Bredo”, “Seu Cobra”, “Pano de Pegar Panela” etc.. Também não esqueço do folclórico “Benzinho Cadê a Ema”, do politiqueiro “Mário Ferro Velho” ou do perverso “Dobe”.
Há pouco tempo a Prof. Lélia Vítor Fernandes de Oliveira lançou o livro “Cidadãos do Mundo” onde biografou cerca de 170 desses personagens folclóricos de Feira nos últimos 60 anos. O Poeta Alberto Boaventura, em seu livro Estórias e Fatos, fala desses Cidadãos do Mundo. Mas existem outros que vamos tirando do esquecimento. Nesta crônica falarei sobre o mulato que apareceu aqui em Feira, logo depois da seca de 32, dizendo chamar-se Zé Poeta. Como tinha o rosto cheio de manchas bem escuras, logo os estudantes alcunharam-no de “Pano de Pegar Panela”. Como ele reagia furiosamente ao apelido, ficou preso a ele. Mas, como “cada doido tem sua mania”, quando ele se sentia muito acuado pela garotada, depois de proferir impropérios, corria sempre em busca de uma Igreja onde se abrigava e a molecada respeitava o Templo.
Como ele era muito católico, constantemente era visto participando de atos religiosos e adorava cantar as músicas da Igreja. Um dia o “Dobe”, o maior moleque de Feira, filho de comerciante destacado, vendo que o Zé Poeta estava ajoelhado e cantando em um ensaio qualquer, com o firme propósito de molestá-lo entrou também na Igreja e ajoelhou-se no banco que ficavas atrás de sua vítima. No momento todos cantavam: “Meu coração/ é só de Jesus/ a minha alegria/ (Dobe, em vez de dizer é a Santa cruz) disse: é pano de pegar panela....” Naquele momento o Zé Poeta mostrou a sua arte e, sem sair do rítimo, repetiu a estrofe assim; Eu subi na jaca mole/ foi a dura que caiu/ pano de pegar panela/ é a P... que o pariu!

Nenhum comentário:

Postar um comentário