sábado, 8 de junho de 2013

TRECHO DO LIVRO "MINHAS MEMÓRIA

 
    Conheci, pessoalmente, apenas três bisavós: Capitão Moreira, Maria Rufina  e Antônia Freitas da Silva, esta  falecida no ano de 1949, enquanto Vovó Caboclinha (Maria Rufina) faleceu no início do ano de 1960   do século passado (XIX) ambas com mais de 98 anos e que muito me contaram das suas épocas.
        A minha bisavó Antônia (apelidada de (Totonha), ficou viúva aos vinte e dois anos de idade com uma filha para criar o que fez vivendo de costura. Dela ouvi muitas histórias sobre Lucas da Feira (que a sua mãe, minha trisavó, assistiu o enforcamento e lhe contou detalhadamente), enquanto que ainda pequena, lembrava da visita do Imperador a Feira de Santana, da inauguração do Teatro Santana e da Santa Casa de Misericórdia, a construção do mercado (a feira era ao ar livre). Falou-me das famílias Rubéns, Pitombo e Teles, que eram seus parentes, do movimento dos tropeiros na cidade.
         A minha bisavó Maria (apelidada de Caboclinha),  casou-se com o português Capitão Antonio Moreira Bastos (?) a quem conheceu no dia do casamento, teve também um único filho, abandonando o marido e viajando para o Rio de Janeiro,( naquela época uma mulher separada do marido era repudiada por todas famílias da cidade) em uma viagem quase cinematográfica, para quem nunca havia saído da Cidade natal. O filho, meu avô,José Moreira Duarte, deixou aos cuidados de sua mãe, com a aprovação dela. Esta morreu na década de sessenta do século XIX com quase 100 anos. O meu bisavô Capitão Moreira conheci-o muito pouco, vez que faleceu no fim da década de trinta do mesmo século passado.
        É importante mostrar a coragem daquela jovem que partiu para o Rio de Janeiro, sozinha, sem nenhum conhecido naquelas plagas, levando apenas uma pequena mala de madeira com roupas e dinheiro suficiente apenas para pagar uma passagem de trem até Cachoeira, outra de “vapor” até Salvador e a última em um navio de passageiros até o Rio de Janeiro,(que só conhecia o nome porque o seu marido, português, viveu algum tempo no Rio de Janeiro), onde ela chegou nos fins de  1883. Na  verdade,ela estava fugindo do preconceito que existia contra mulheres separadas (a palavra usada era “largada”) do marido. Procurando de casa em casa por um trabalho e sendo boa costureira e bordadeira, conseguiu emprego no mesmo dia, na Rua Frei Caneca,o que a salvou de dormir na rua. Dali, posteriormente, assistiu a abolição da escravatura em maio de 1888 e a proclamação da República em 89. Dela ouvi muitas histórias sobre a vida de Feira do seu tempo. Uma das coisas mais importantes que ela contava, era que sua avó conhecera Feira com três ruas: Da Direita, Do meio, e Da Esquerda. Segundo a sua avó, a metade das casas ainda era coberta de palha de ouricuri. Faleceu em 1963, com quase um século de vida.




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