Conheci,
pessoalmente, apenas três bisavós: Capitão Moreira, Maria Rufina e Antônia Freitas da Silva, esta falecida no ano de 1949, enquanto Vovó
Caboclinha (Maria Rufina) faleceu no início do ano de 1960 do século passado (XIX) ambas com mais de 98
anos e que muito me contaram das suas épocas.
A minha
bisavó Antônia (apelidada de (Totonha), ficou viúva aos vinte e dois anos de
idade com uma filha para criar o que fez vivendo de costura. Dela ouvi muitas
histórias sobre Lucas da Feira (que a sua mãe, minha trisavó, assistiu o
enforcamento e lhe contou detalhadamente), enquanto que ainda pequena, lembrava
da visita do Imperador a Feira de Santana, da inauguração do Teatro Santana e
da Santa Casa de Misericórdia, a construção do mercado (a feira era ao ar
livre). Falou-me das famílias Rubéns, Pitombo e Teles, que eram seus parentes,
do movimento dos tropeiros na cidade.
A minha
bisavó Maria (apelidada de Caboclinha),
casou-se com o português Capitão Antonio Moreira Bastos (?) a quem conheceu
no dia do casamento, teve também um único filho, abandonando o marido e
viajando para o Rio de Janeiro,( naquela época uma mulher separada do marido
era repudiada por todas famílias da cidade) em uma viagem quase
cinematográfica, para quem nunca havia saído da Cidade natal. O filho, meu
avô,José Moreira Duarte, deixou aos cuidados de sua mãe, com a aprovação dela.
Esta morreu na década de sessenta do século XIX com quase 100 anos. O meu
bisavô Capitão Moreira conheci-o muito pouco, vez que faleceu no fim da década
de trinta do mesmo século passado.
É importante
mostrar a coragem daquela jovem que partiu para o Rio de Janeiro, sozinha, sem
nenhum conhecido naquelas plagas, levando apenas uma pequena mala de madeira
com roupas e dinheiro suficiente apenas para pagar uma passagem de trem até
Cachoeira, outra de “vapor” até Salvador e a última em um navio de passageiros
até o Rio de Janeiro,(que só conhecia o nome porque o seu marido, português,
viveu algum tempo no Rio de Janeiro), onde ela chegou nos fins de 1883. Na
verdade,ela estava fugindo do preconceito que existia contra mulheres
separadas (a palavra usada era “largada”) do marido. Procurando de casa em casa
por um trabalho e sendo boa costureira e bordadeira, conseguiu emprego no mesmo
dia, na Rua Frei Caneca,o que a salvou de dormir na rua. Dali, posteriormente,
assistiu a abolição da escravatura em maio de 1888 e a proclamação da República
em 89. Dela ouvi muitas histórias sobre a vida de Feira do seu tempo. Uma das
coisas mais importantes que ela contava, era que sua avó conhecera Feira com
três ruas: Da Direita, Do meio, e Da Esquerda. Segundo a sua avó, a metade das
casas ainda era coberta de palha de ouricuri. Faleceu em 1963, com quase um
século de vida.
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