quarta-feira, 14 de abril de 2010

Carnaval e Micareta de Feira

Lembro-me ainda dos carnavais da década de 30 e que antecederam a Micareta da provinciana Feira de Santana: a parte da manhã era aproveitada pelos pequenos blocos de mascarados que divertiam as famílias com gracejos e tentavam a amedrontar a garotada. Não faltavam os casamentos de noiva de dois metros de altura com noivo anão, que por sinal, carregava uma escada para quando quisesse beijar a noiva, ou um tabaréu ajoelhando-se para pedir bênção aos mais velhos no estilo antigo; muitos pierrôs, colombinas e arlequins, todos cantando e dançando, não faltando uns pares de músicos.
A parte da tarde era a vez dos cordões "Filhos do Sol" e "Melindrosas" que tinham como presidentes quase perpétuos Artur Nery e Manoel de Emília respectivamente. Ambos tinham suas sedes no ABC (hoje Av. Sampaio). Depois surgiu a primeira batucada, organizada por engraxates com apoio do povo. O bloco "Zé Pereira", organizado pelo pessoal da Folha do Norte, era uma espécie de arauto do carnaval. Era o primeiro a sair anunciando a chegada da festa momesca. Também no encerramento, na quarta-feira, antes da missa, saía do bairro "Fiado" o bloco "Bacalhau na Vara".
Em 1936 um grupo de foliões, liderados por Manoel da Costa Ferreira (Maneca Coletor) e pelo Prof. Antônio Garcia, revolucionou a cidade com a decisão da criação da Micareme em substituição do Carnaval. Houve debates pelos jornais com o grande mestre Antônio Garcia defendendo o nome de Micareta e não Micareme; venceu.
Maneca e outros, com a acessoria de João Bojo, convocaram todos os artistas feirenses que entendiam de alegoria e ainda trouxeram operários de Salvador que tinham experiência nos clubes Fantoche e Cruz Vermelha. No antigo armazém de fumo que também serviu de Quartel do Exército na Segunda Guerra Mundial, localizado no Fiado, hoje Praça Presidente Médici (Feiraguai), foi montada a grande oficina onde foram construídos os carros alegóricos. Cuidou-se logo de organizar o Clube Flor do Carnaval, ao qual pertenciam os carros alegóricos. Foram construídos vários carros, com destaque para uma parelha de cavalos com as patas dianteiras levantadas, outro com um enorme elefante guarnecido por guerreiros, outro com um camelo e um último cheio de baianas, as quais rodavam à medida que o carro se movia.
No dia do desfile lá estava o cordão "As Melindrosas" com a fantasia mais bonita que puderam, com grande número de participantes e todo o entusiasmo possível. Mas a Flor do Carnaval estava imbatível com a novidade de carros alegóricos. Foi uma festa grandiosa que marcou o ínicio da Micareta que ainda hoje engrandece Feira de Santana.
Embora o velho Manoel de Emília tenha elogiado a Flor do Carnaval, adaptou-se a ele, tentando-se anuviar o brilho do grande líder Maneca Ferreira, a Marchinha de Paulo Barbosa e Oswaldo Santiago e que dizia assim:
"Lá vem o seu Maneca na ponta do pé / Lig-lig-lig-lé / Dançanado a Flor / Que lindo Papel / Lig-lig-lig-lé.." mas Maneca imortalizou-se, a Micareta popularizou-se em todo o Brasil e ganhou nome até mesmo no Exterior..

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