sábado, 17 de abril de 2010

O Bacalhau na Vara - Micareta de Feira

Estávamos entre amigos quando um filho de Olinda, em Pernambuco, se disse surpreso quando ouviu Hugo Navarro dizer, na Tv Subaé, que o bloco carnavalesco "Bacalhau na Vara" havia sido criado em Feira de Santana há mais de 70 anos. Ele acreditava que o "Bacalhau na Vara" era um bloco copiado do "Bacalhau do Batata" que existe em Pernambuco.
Estando em plena Micareta e mais uma vez com o desfile do Bacalhau na Vara, achamos que está na hora de contarmos a história real do bloco que nasceu de uma gozação dos comerciantes e foliões da cidade.
Não posso precisar a data, mas conheci todos os personagens que criaram e formaram o primeiro bloco. Tudo começou com o Manoel Pereira, carnavalesco que tinha uma venda (pequena merceria) na esquina do Fiado, hoje Praça da República. Manoel, para que o bacalhau, prato imprescindível na quarta feira de cinzas, ficasse com boa aparência e mais pesado borrifava-o usando água com um pouco de sal, e na quarta feira pendurava-o ao sol. Como a maioria das casas tinha o quintal cercado por varas finas da madeira candeia, ele espetava o bacalhau em cada vara do quintal e ali ficava protegendo sua mercadoria dos urubus, gatos e cachorros que sempre apareciam atraídos pelo cheiro ativo.
Quando os fregueses o procuravam e perguntavam a sua esposa por Manoel, esta informava que ele estava "com o Bacalhau na Vara". Os gozadores aproveitavam-se do duplo sentido da frase para alfinetar o Manoel, que também era outro gozador. Antoninho Bodão, dono da então Panificadora Moderna e amigo íntimo de Manoel Pereira, convenceu-o a fazer um pequeno bloco na quarta de cinzas e levar um bacalhau espetado em uma vara como se mostrasse o verdadeiro sentido da brincadeira.
Assim nasceu o Bacalhau na Vara que contava, entre outros, com o próprio Manoel Pereira, porta estandarte com um bacalhau seco enfiado em uma vara, Antoninho Bodão, Gringo Cabeçorra, Carlos Pitombo, Gilberto Falcão, Florisberto Moreira, Almiro Vasconcelos e outros. Sendo Manoel também músico da Vitória, não foi díficil arranjar outros músicos para acompanhar o bloco, que posteriormente foi ampliado e organizado com diretoria, etc.
Mas o duplo sentido do Bacalhau na Vara durou até que o bloco fosse desfeito. Depois, revigorado, perdeu o sentido da gozação antiga e está nas ruas e, durante a noite, depois de os componentes pularem muito, ainda traz aquele cheiro característico, que já não é do peixe...

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