terça-feira, 2 de novembro de 2010

Saudades das Velhas Músicas

Há uma tendência nata no ser humano em relacionar determinada música a acontecimentos da época. Hoje, em todo o território brasileiro, quando se ouve a música “Peixe Vivo”, ela traz a lembrança do Presidente Juscelino Kubitschek. Era a sua música popular predileta e todos sabiam. Hoje ela divide com Brasília o símbolo de Juscelino. Quem não relaciona o bolero “Besame mucho” com o escândalo do caso Deputado Bernardo Cabral e a Ministra Zélia Cardoso? E naquela eleição que ACM usava vistosas camisas listradas durante os comícios (era moda) sendo logo criticado por seus adversários com o samba “Sossega Leão” que dizia: ...vestia uma camisa listrada e saía por ai/ Levava um canivete no cinto e um pandeiro na mão/ Sorria quando o povo dizia, sossega leão!
Como me considero saudosista inveterado, tenho na lembrança uma coleção monumental de músicas que estão relacionadas a alguma coisa da minha vida: a primeira música que aprendi a cantar foi uma marchinha carnavalesca (não me recordo o título) que foi considerada maliciosa somente porque dizia “a lua malcriada quando passa/ espia na vidraça/ dos quartos de dormir.../ zombando dos casais enamorados/ quase sempre descuidados/ ela fica sempre a rir !”
Do primeiro carnaval que, ainda menino, participei, ficou arquivado na lembrança aquela marchinha inocente que falava da lendária história do Pierrô e Colombina: “Um Pierrô apaixonado/ que vivia só cantando/ por causa de uma Colombina/ acabou chorando, acabou chorando...”
A minha estréia no salão de danças, aconteceu no baile da Vitória na micareta de 1937 ao som do samba “Cai,Cai” tendo nos braços a bela Lília Cunha. Naquela mesma noite dancei a marcha “Jardineira” , esta mesma que aparece em todos os carnavais ao lado de “Alá-Lá-ô”, “Mascara Negra” “Está chegando a hora” “Pirata da perna de pau”, “Bandeira Branca” “O cordão dos puxa-sacos” “Os carecas” e tantas outras, verdadeiras imortais da Academia Carnavalesca.
Thai!/ eu fiz tudo pra você gostar de mim/ oh! Meu bem não faça assim comigo não / você tem, você tem que me dar seu coração. Esta música era uma excelente declaração de amor para qualquer moça. Bastava trocar o nome de Thai pelo seu nome. As Marias sempre foram beneficiadas com músicas desde as clássicas Aves Maria (de Gounod e Schubert) até a popular “lata d’água na cabeça”, passando pela saudosa Ave Maria do Morro e “Maria” de Ary Barroso: Maria, o teu nome principia / na palma da minha mão...
Hoje recordo com orgulho de ter assistido no Teatro Municipal do Rio de Janeiro o grande tenor Tito Skipa cantando “Santa Luccia”, “Funiculi,Funicula”, vários trechos de La Traviata , outros de Rigoleto, ambas de Verdi. Foram momentos vividos em um mundo de sonho e êxtase.
Aos tangos argentinos como “Mano a Mano” “La Cumparcita”, “Tristeza Marina”, “Percal”, “Uno” , “Adios Amigos” , “Adios Pampa Mia”, “Cristal”, “Nostalgias”, “A Media Luz”, “El Dia Que Me Quieras” e outros que ora me fogem da memória, eu credito aos intervalos que tínhamos entre um comboio e outro nos portos do sul, durante a segunda guerra mundial.
Mas aquelas músicas como Ai Que Saudade da Amélia, Tenho Ciúme de Tudo, Kalú, Cabecinha No Meu Ombro, Alguém Me Disse, Leva Eu Saudade, Naquela Mesa, Leva Meu Samba, Sempre No Meu Coração, Brasa, Atira A Primeira Pedra, Velho Realejo, Caminhemos, Marina, Fica Comigo Esta Noite, Deusa da Minha Rua, Chão de Estrelas, Maria Helena, Renuncia, Nada Alem, têm um sabor diferente para cada pessoa porque elas representam um momento romântico em cada vida. A minha avó guardava um velho disco de cera de carnaúba gravado com a valsa Facinação. Eu guardo na memória a música que retratava a mulher da minha vida: Normalista. E, há 60 anos guardo também aquela Normalista... em nossa casa.

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