quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O Antigo Campo do Gado

No limiar da década de 30 a Feira Livre e o Campo do Gado eram os dois símbolos maiores da Cidade. Também em torno dos dois giravam os braços da economia e do lazer.
O “campo do gado”, onde se reuniam as boiadas vindas de todas as partes para compra e venda, se situava a partir do atual Cinema Íris até próximo de algumas casas onde hoje é a Queimadinha (de sul a norte). E de leste a oeste ficava entre os fundos da mansão dos Froes da Motta e os primeiros casebres da Boa Viagem,(hoje rua Geminiano Costa) onde começava a “estrada das boiadas” de Feira para Salvador,e onde hoje estão os Colégios Municipal e Agostinho Froes da Motta.
Não havia calçamento porem o pequeno declive do solo e a sua composição arenosa mantinham todo o campo sempre em boas condições de uso. No centro havia uma balança com a seringa e nada mais. Os vaqueiros vinham sempre em número suficiente para “rodear” suas boiadas, mas a falta de currais e a proximidade entre machos e fêmeas acabava por misturar e espalhar boiadas a todo o momento e, não raro, bois fugiam nas mais diversas direções. Também havia um batalhão de vaqueiros amadores verdadeiros Playboys que dispunham de bons cavalos e tempo suficiente para passar as segundas-feiras disputando a derrubada do boi fujão, durante a carreira. Era uma vaquejada improvisada e constante. Lembro-me que o grande campeão da época era Pepêu (das famílias Pinto / Almeida – as mais antigas e respeitadas de Feira) com o seu excelente cavalo “Volta Grande”.
Quando um boi corria em direção a uma ponta-de-rua ou ao mato, sempre perseguido por vaqueiros profissionais e diletantes, tudo se transformava em brincadeira, diversão. Mas quando o boi tomava a direção do centro da cidade, certamente ia parar no meio da feira livre porque o caminho natural era a Avenida Senhor dos Passos. E logo na entrada do largo da Praça, onde se concentrava a feira e o comércio, estava situada a parte de cerâmica onde se vendiam panelas, potes, vasos e outros utensílios de barro muito usados então. Ali o desastre era completo: o povo abandonava tudo e buscava abrigo no mercado e nas casas comerciais, as quais logo fechavam as portas, quando era possível. Além dos prejuízos financeiros, havia a tragédia oriunda do pânico do povo que se atropelava, deixando um saldo de feridos e algumas vezes mortos.
No fim da década de 30 se construiu currais de arame nas proximidades da Boa Viagem, onde atualmente se encontra o Museu de Arte Contemporânea e o Colégio Municipal. Posteriormente substituíram os currais de arame por currais de madeira, no mesmo local. Acabou assim a tragédia nas ruas e Feira, mas também morreu a poesia daqueles vaqueiros, Play-Boys da época.
O Prefeito Carlos Valadares promoveu o desenvolvimento residencial naquele local e o progresso levou o Campo do Gado para o extremo leste da Queimadinha, cujo local ficou conhecido pela aberração gramatical de Campo do Gado Velho.

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